A Fofoca

Um dos costumes mais enraizados no ser humano é o (péssimo) hábito da FOFOCA. Desde a época do Egito Antigo, alguns escravos e criados dos faraós, dos palácios, eram não somente castrados, como também tinham suas línguas cortadas, num esforço cruel de evitar-se que notícias palacianas, estratégias de guerra ou tão somente hábitos da família real fossem comentados por entre a criadagem ou chegassem ao povo. Concordo, cruel demais, mas de fato evitava. Isso foi tão somente para ilustrar o QUÃO antiga é a fofoca. 


Há alguns anos as janelas das casas eram utilizadas como ponto de observação da vida alheia. É a clássica cena da tiazinha na janela, reparando na vida dos outros e fofocando à primeira vizinha que passasse. E, claro, para dar "mais emoção", colocando altíssimas doses de malícia, aumentando a fofoca com requintes de maldade e/ou preconceitos enraizados. E isso ainda acontece muito em cidades de interior, mormente, ou ainda em locais onde os vizinhos se conhecem e se conversam com frequência.


Digite a palavra "fofoca" no Google e virão 840.000 resultados, e os principais são os sites de fofocas sobre a vida pessoal de personalidades famosas. A internet e a TV se tornaram disseminadores de "pseudo-notícias" sobre a vida das pessoas. Vivemos um gigantesco Big Brother, onde o simples fato de determinado artista estar andando em um calçadão tomando sorvete, vira "notícia". Ou seja, invade a privacidade alheia sem nenhum pudor, sem pedir licença. E não somente invade, mas também faz um juízo de valor, propaga, julga e condena de acordo com a própria opinião pessoal do observador, muitas vezes calcada em referências morais bastante equivocadas e frágeis.


É extremamente perigoso disseminar uma fofoca. Tanto para quem é o alvo dela, como para quem a propaga. Pode-se destruir uma reputação, pode-se ferir pessoas, acabar com carreiras, lares, famílias, relacionamentos. Um fofoqueiro pode cometer CRIMES de Calúnia, Difamação e Injúria. DÁ CADEIA isso.  Sem contar que o fofoqueiro SEMPRE será mal visto. SEMPRE será olhado com desconfiança e temor. Ninguém confia numa pessoa fofoqueira, ninguém quer ser amigo de alguém que tem o costume de falar de todo mundo. Quem fala mal de alguém para você, certamente falará mal de você para alguém.


E porque algumas pessoas gostam TANTO do péssimo hábito da fofoca, ao ponto de esquecerem de si mesmas, para vivenciar tão somente a vida alheia? Simples: essas pessoas abstraem do seu próprio universo pessoal, muitas vezes conturbado e/ou desinteressante, para "viver" em outra casa, como outra pessoa, projetando suas frustrações no outro. Olhar para si mesmo, em muitos casos, consiste em descobrir um caráter frágil, inconsistente, e isso machuca. É preciso ser corajoso para isso, e a maioria das pessoas que cultivam o hábito da fofoca não são pessoas corajosas, embora batam no peito e digam que são.


Quando alguém aponta o dedo indicador ao outro, se esquece de que existem outros três dedos apontados para si mesmo. Ou seja, se esquece de que sua personalidade é três vezes, no mínimo, mais fraca do que aquele para o qual aponta. Quando essa pessoa, que cultiva o terrível hábito da fofoca, olha para o outro, avalia o outro, julga o outro de acordo com SEUS frágeis valores morais, deixa de exercitar o salutar hábito de avaliar a si mesma, corrigir a si mesma. Ou seja, se esconde, se omite de corrigir seus próprios defeitos e não admite que precisa mudar, infelizmente.


Portanto, de hoje em diante, sempre que sua língua coçar e você tiver o impulso primitivo de "apontar seu dedo ao outro", primeiro olhe para si mesma e verifique quais as razões te levam a olhar mais para a vida do outro, do que olhar para dentro de si. Garanto que vai encontrar algo muito errado e que precisa ser corrigido com bastante urgência. Faça isso, antes que a vítima da fofoca seja você mesma! ;)